Edifício centenário no Centro do Rio, Hotel Aymoré vai ganhar projeto residencial
Inaugurado em 1910 e fechado na pandemia, prédio terá fachada histórica recuperada; fundo canadense transformar os 48 quartos atuais em 25 apartamentos
RIO — Mais um hotel do Rio deixará de receber hóspedes para dar lugar a moradores. Com fachada de cantaria em que se destacam referências a elementos indígenas, a construção em estilo eclético do antigo Hotel Aymoré, na Praça da Cruz Vermelha, no Centro, atraiu a atenção do fundo canadense de investimento imobiliário Walkerville, especializado na modernização de edifícios — o chamado retrofit — para fins de locação. A aquisição do endereço pelo grupo, como divulgou o blog do colunista Ancelmo Gois, foi intermediada pela Sergio Castro Imóveis. A escritura será assinada no fim de março, e a reinauguração como residencial está prevista para ocorrer em até dois anos. Os atuais 48 quartos darão lugar a 25 apartamentos maiores.
As dimensões do endereço pesaram na decisão do fundo canadense, de olho em oportunidades no Centro e em Santa Teresa. O Aymoré possui dois mil metros quadrados de área, que ocupam quase todo o quarteirão. O futuro prédio residencial ficará perto do Instituto Nacional do Câncer (Inca), e há a expectativa de que atraia parentes de pessoas de fora do Rio em tratamento.
“Hotel do índio”
A história da construção da Rua Carlos Sampaio, esquina com a Carlos de Carvalho, também foi um fator que atraiu os investidores. O hotel foi inaugurado em 1910, pelo empresário Antonio Mendes Campos, e herdado por sua filha, Maria José Campos Seabra. Avaliado com duas estrelas, o empreendimento sobreviveu por mais de 100 anos, mas não resistiu à pandemia. Devido a um busto indígena na fachada, chegou a receber a alcunha de “hotel do índio” — um apelido inapropriado, já que o termo "índio" é entendido como pejorativo por etnias indígenas.
Sua transformação em endereço residencial segue tendência hoje vista na cidade. O agravamento da crise no setor hoteleiro com a chegada da Covid-19 fez com que parte dos seus estabelecimentos entrasse na mira do mercado imobiliário. É o caso de alguns negócios tradicionais que foram “retrofitados”, como o antigo Hotel Paysandu, no Flamengo, comprado em 2020 pela Pimo Empreendimentos Imobiliários. Também entrou nessa leva o Hotel Novo Mundo, no mesmo bairro, que voltou à atividade em 2020 como unidade da Uliving, empresa de hospedagem estudantil.
Outro exemplo é o do Hotel Glória: fechado desde 2013, foi adquirido no ano passado pela Opportunity Investimentos, que anunciou um projeto residencial de 256 unidades. Terão o mesmo destino o Hotel Praia Linda, na Barra, o San Remo, em São Conrado, e o Everest, em Ipanema.
Reviver Centro
A revitalização do Hotel Aymoré integra o Reviver Centro, programa da prefeitura para revitalização da região que contempla medidas de incentivo à moradia. Desde sua entrada em vigor, em julho de 2021, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano (SMPU) recebeu 16 pedidos de licenciamento: seis foram concedidos e dez estão em andamento. Entre novas construções e retrofits, os projetos totalizam 1.674 unidades.
Com baixa demanda de hóspedes, alguns hotéis do Centro ganharam permissão legal para ceder instalações para uso residencial. Entre conversões completas e parciais, cerca de 20 já aderiram à novidade, informa o Sindicato dos Meios de Hospedagem do Rio (HotéisRIO).
— Esses hotéis do Centro já estavam deteriorados. São antigos, ficam em áreas que acabaram degradadas. Uns fecharam, como o Aymoré. Outros operavam muito mal. Aí surgiu essa oportunidade de reconverter. É o ideal, porque continua gerando emprego — afirma o presidente do Hotéis Rio, Alfredo Lopes.
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Fonte (matéria): jornal O Globo