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Além da Bienal: livrarias de rua resistem no Rio de Janeiro promovendo a cultura carioca

Publicado em: 16-06-2025

Capital mundial do livro, o Rio vive dias movimentados na Bienal. O evento indica quebras de recordes e alto número de vendas nesta edição 2025. Contudo, a cidade que se lê, escreve, reescreve e traduz está há anos nas ruas em três livrarias que representam a alma carioca. Folha Seca,Casa da Árvore e Belle Époque resistem no traçado das complexas e encantadoras linhas do Rio de Janeiro.

A história mais antiga das três é a da Folha Seca. São 27 anos, sendo 21 na Rua do Ouvidor – histórica via da cidade que já concentrou dezenas de livrarias e se tornou um dos principais espaços culturais das Américas.

A escolha do lugar foi totalmente por acaso, aleatória, mas com alguma sinergia. A gente tinha muito medo de ter uma loja de rua, por motivos óbvios, comércio é difícil. Estávamos no Hélio Oiticica e tinha suas vantagens de estar em um centro cultural. Um dia, um amigo que encontro até hoje me falou que tinha essa loja na Ouvidor, que tinha tudo a ver com a gente, lugar ótimo. Então, a gente veio, criou coragem, respirou fundo e ficou“, conta Rodrigo Ferrari, o Digão, criador da Folha Seca.

Em meio a bares e restaurantes, a Folha Seca encontrou seu lugar. No início, a localização ainda era ocupada por muitos comércios ligados ao antigo Mercado do Peixe, longe do perfume da outra parte glamourosa e afrancesada da Ouvidor. Ao lado da Toca do Baiacu, que deu no New York Times, a livraria, para muita gente, tem a cara de um boteco. Mais carioca impossível. Rodrigo comenta os lançamentos de livros cheios de música e goles: “Minha mãe brinca comigo ‘você é um sacripanta mesmo, toda hora quer festa’. Esses eventos para lançar alguma obra fazem parte da rotina das livrarias. As tardes de autógrafos e lançamentos são fundamentais nessa atividade. O que a gente faz aqui é juntar os amigos, agregar com os bares vizinhos, com os músicos e fazer de uma forma que fique legal para todo mundo”. 

Os debates sobre o futuro do mercado editorial são inevitáveis. Grandes livrarias fechando, as vendas online por preços bem abaixo do praticado, os nichos que as editoras estão investindo. Tudo isso se transforma em interrogações, inseguranças. Contudo, para Digão, que hoje trabalha junto com Miguel, o que mantém as coisas caminhando bem na Folha Seca é justamente o que sempre o norteou: identidade. O que marqueteiros costumam chamar de “conceito“. Todavia, ter identidade é bem melhor. 

Alguém que vai à Folha Seca sabe que vai encontrar livros dentro de uma determinada temática em um ambiente de proximidade, amizade e simpatia. Carioca no melhor sentido da definição. Firme na resistência.

Foto: Divulgação Livraria Casa da Árvore

Na mesma linha, mas em outra rua encontra-se a Casa da Árvore. Na Almirante Gavião 6 C, Tijuca, a livraria também celebra a carioquice entre palavras escritas e ditas em mesas onde apoiam-se copos de cerveja, café e pratos variados.

A Casa da Árvore começou em 2020 dentro da Casa Omolokum, na Pedra do Sal. Em maio de 2021 foi para a Tijuca, em frente ao Bar Madrid.

“A ideia é trabalhar a valorização das livrarias de rua e promover uma dobradinha com o Bar Madrid. Manter uma livraria de rua no Rio é um desafio diário. A gente trabalha mês a mês pra fechar as contas e conseguir manter a loja funcionando. Além do trabalho, é um exercício de resistência“, pontua Eduardo Ribeiro, idealizador da Casa da Árvore.

Há quem defenda que a Bienal está batendo recorde de público nesta edição por conta do grande número de influenciadores divulgando livros nas redes sociais.

Porém, Eduardo observa essa questão das redes com uma leitura um pouco diferente: “Nosso slogan é ‘só o livro expulsa o algoritmo das pessoas’. Acho que as redes sociais atrapalham muito mais do que ajudam. O tempo e a atenção das pessoas está totalmente capturado pelas telas.

Para os próximos capítulos, Eduardo diz que a Casa da Árvore pretende seguir “fazendo eventos na livraria e refinar cada vez mais o acervo para manter nossos clientes conectados com a nossa iniciativa”.

Voltando uma página, ou uma casa, à Casa da Árvore, Eduardo traz um ponto: “Nosso acervo conversa com a cidade e sua história. Muitos intelectuais cariocas passam por aqui e gostam do nosso trabalho. Mas o Rio de Janeiro é uma cidade difícil para quase tudo, para as livrarias de rua é mais difícil ainda. A cidade está tomada pelas farmácias“.

Livraria Belle Époque/ Reprodução

No bairro do Méier, uma narrativa que não foge nada às duas anteriores. A Livraria Belle Époque fica na Rua Soares, 50, e mantém a cultura carioca, de vielas e avenidas, no lide de tudo.

“Estamos na região que apelidei de ‘fígado do Méier, levando em consideração que a Dias da Cruz é o coração do bairro“, brinca Ivan Costa, responsável pela Belle Époque, que começou um trabalho com os livros entre 2013 e 2014 na saída do metrô da Carioca, onde se encontram barracas vendendo as mais variadas edições.

Ivan Costa trabalhava no Sebo Berinjela e fazia sua própria seleção de livros para vender, à noite, na saída do metrô. “Era um horário que já não tinha tantos livreiros, mas sempre tinha gente passando e procurando algum para levar“, lembra. Nessa época, ele fez contatos, ficou conhecido pelo público, apareceu em matéria de TV e caminhou (e até pedalou com uma bicicleta que levava livros aos leitores) para a criação da Belle Époque.

Vendendo livros na rua, Ivan foi adquirindo exemplares que futuramente formariam a Belle Époque. “Morava numa quitinete, mas tinha uma varanda, então ia guardando tudo lá e já recebia clientes em casa”.

Enfim, aberta em 2018, a Belle Époque é a única livraria de rua em um raio de quilômetros nos subúrbios do Rio de Janeiro. Em 2022, o espaço pegou fogo. Foi reconstruído e segue com portas e páginas aberta para novas histórias. Inclusive, assim como a Folha Seca e a Casa da Árvore, realizando eventos que se estendem às ruas.

É muito difícil manter uma livraria de rua aberta no Rio de Janeiro. Estamos sempre na eminência de fechar. Admiro não só os que mantém livrarias abertas, mas também os que fecham, como o Ronaldo Dias, que é um amigo que fechou as portas, mas continua com o ofício. Quem ama esse trabalho dificilmente faz outra coisa da vida“, reforça Ivan.

Mas, nem tudo é percalço e resistência dolorosa nesse amado ofício. A jornada revela diversas belezas: “A pessoa que compra um livro comigo pela Internet, pelas redes sociais, compra aquele livro, pede para enviar e acabou. É isso. A pessoa que vem na loja, ela se encanta, ela encontra outros livros. Ela encontra livros que ela nem sonharia em encontrar porque o algoritmo não proporciona essa descoberta. O algoritmo vai te mostrar coisas parecidas com as quais você já busca. Às vezes o livro da sua vida não tem nada a ver com isso. Você acha o livro, mas o livro também te acha”.

E nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, nas livrarias que contam essa história, muita coisa se encontra.

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