
Candelária completa 250 anos com Missa Solene rezada por Dom Orani Tempesta
Publicado em: 07-06-2025Celebrando 250 anos da bênção de sua pedra fundamental, a Igreja da Candelária, no Centro do Rio, é um templo vivo na vida do carioca e dos devotos católicos. Muito mais do que um templo religioso, o templo da Irmandade do Santíssimo Sacramenro da Candelária também tem um museu com patrimônios inestimáveis, sendo por isso tombada pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).
Nesta sexta-feira (6), a antológica Irmandade festejou a benção da Pedra Fundamental da Igreja, enterrada nas proximidades do altar, onde gerações de casais se uniram em matrimônio, inúmeras crianças foram batizadas e receberam, posteriormente, os sacramentos da Primeira Comunhão e da Crisma. Uma multidão encheu os bancos do imenso templo neoclássico para assistir à Missa Solene comemorativa da data, numa linda festa em que a Candelária esteve enfeitada com bandeiras, prataria bicentenária e a presença de seus irmãos com suas vestes grená e dourado.
Para festejar o momento histórico, o Arcebispo do Rio de Janeiro, o Cardeal Orani João Tempesta, oficiou uma Missa Solene, de manhã desta sexta. A cerimônia contou com o acompanhamento de grande coral e orquestra, que entoou conhecidas músicas sacras, regido pela soprano Juliana Sucupira, conhecida por acompanhar as missas solenes na Igrejinha dos Mercadores, na rua do Ouvidor.
Na ocasião, Dom Orani ressaltou a centralidade histórico-cultural do templo, além de lembrar que a cerimônia marca os 250 anos da Bênção da Pedra Fundamental da Igreja.
“Celebrar os 250 anos da Bênção da Pedra Fundamental da Igreja Nossa Senhora da Candelária é, para nós, uma oportunidade. Primeiro, de ver a Igreja sempre presente no centro histórico desta cidade, com um templo que, além da sua beleza arquitetônica, com sua importante posição sob o tempo histórico-cultural, marca o centro da cidade. A Igreja da Candelária, com sua beleza, sua presença e sua localização, é um marco no Centro do Rio de Janeiro”, afirmou os Arcebispo ao jornal O Globo. Dom Orani lembrou, em sua homilia, que as igrejas do Centro devem estar preparadas para não receber apenas turístas e passantes esporádicos, pois novos moradores estão chegando à região e vão povoar o dia a dia de suas paróquias, após décadas c fazendo óbvia referência à revitalização da região, que já rende frutos.
Concelebraram com Dom Orani alguns dos mais queridos clérigos da cidade, como o Bispo referencial da região, Dom Roque Costa Souza, o Vigário Episcopal Urbano, padre Wagner Toledo – responsável também pela linda Matriz de Santa Rita, o pároco da Antiga Sé, padre Silmar Alves Fernandes, e até mesmo o abade do Mosteiro de São Bento. Em emocionantes palavras, Dom Roque lembrou sua época de pároco da Antiga Sé e como cobria as férias do inesquecível Monsenhor Elia Volpi, que ficou anos à frente da Candelária, recebendo visitantes impressionados com a beleza do templo.
Após a celebração religiosa foi descerrada uma placa comemorativa pelos dois séculos e meio. O rito contou com as presenças de várias autoridades e empresários ligados ao soerguimento do Centro do Rio, como os provedores da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, Cláudio André de Castro, da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, Francisco Horta, da Irmandade de Santo Antônio dos Pobres, José Queiroga e da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, João José, assim como dirigentes de diversas outras importantes irmandades com templos históricos na região e autoridades de órgãos ligados ao patrimônio e à revitalização do Centro. Esteve também presente a Lugartenente da milenar Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, Almerinda Mendes.


À frente da Candelária, desde sempre está a Irmandade doSantíssimo Sacramento da Candelária, uma organização religiosa que também cuida de várias obras sociais, como instituições que cuidam de 300 idosos; dois colégios com quase 500 crianças, selecionadas em comunidades da região central da cidade e para as quais são fornecidos “educação, cinco refeições por dia, uniformes e livros; até o nono ano”, disse o atual provedor da Irmandade, Antonio Soares da Silva, ao RJTV, da TV Globo. Mais de 50 irmãos da Candelária adentraram a igreja em procissão, acompanhando o Cardeal, ao som de “Ecce Sacerdos Magnus”.
Irmã da Candelária, a especialista em Arte Sacra da UniRio, Márcia Valéria Rosa, ressalta que entre as riquezas da Igreja da Candelária estão a arquitetura do século XIX e obras assinadas por artistas de diversas expertises e de excelente qualidade; o que fazem dele um “templo cristão” e um “museu”, disse ela ao veículo, acrescentando que a história da Igreja é marcada por travessia marítima, que quase terminou em naufrágio.

Após a Missa, um dos membros da irmandade, GabrielOliveira, mostrou e expôs o relicário contendo relíquias de nove Santos Mártires, originalmente destinadas a ficar no altar do templo, mas que por razões desconhecidas permaneceram guardadas, e agora irão integrar o Museu da confraria. A Candelária recentemente fez o restauro de seu consistório, uma linda sala de reuniões construída no passado para abrigar as principais decisões da entidade.
O casal de espanhóis Antonio de Palma e Dona Leonor Gonçalves saíram em viagem pelo oceano, quando enfrentaram uma intensa tempestade, depois da qual aportaram à Praça XV, entrada oficial do Rio de Janeiro. Em 1630, o casal comprou um terreno e mandou construir uma igreja dedicada à Nossa Senhora da Candelária. Parte do templo original compõe a lateral da atual construção. A história está retratada no teto da Candelária.
A primeira Candelária era pequenina e com o tempo foi demolida para dar lugar a um templo grandioso, influenciado pelo crescimento e enriquecimento da cidade, no século XVIII, quando o Rio de Janeiro passou a ser a sede administrativa da Colônia. Para contemplar tamanhas transformações, as autoridades da época decidiram erguer um templo mais imponente e rico, explicou o historiador João Nara Júnior.
Em 1952, a Igreja da Candelária foi palco de um casamento controverso no Brasil, a união entre um homem branco e uma indígena: Ayres Câmara Cunha e Diacui Aiwute. A cerimônia – a primeira oficial do gênero – foi acompanhada por mais de 10 mil pessoas. No decorrer dos anos centenas de personalidades importantes da cena carioca, como artistas, empresários e políticos, se sacaram na Candelária,
Por conta da sua localização e imponência, a Igreja da Candelária assistiu de perto grandes eventos na história do Rio de Janeiro e do Brasil, como a Missa de 7º Dia do estudante Edson Luís, assassinado em 28 de março de 1968 durante um protesto no Restaurante “Calabouço” e o comício das Diretas Já, em 1964, entre outros fatos de relevância social e política que aconteceram por ali, como destacou Nara Jr.
Depois de tantos anos como Igreja, a Candelária pode ser elevada à condição de Basílica; assumindo outra personalidade, com diversos impactos na vida da Igreja Católica, social e turística do Rio de Janeiro. Por conta da sua riqueza arquitetônica e simbólica, a Candelária tem um papel central na vida da cidade, como guardiã da tradição e lança solene para o futuro.