
Bairro de Campo Grande quase virou uma cidade
Publicado em: 23-09-2020Campo Grande é o bairro mais extenso e que tem o maior contingente populacional da cidade do Rio de Janeiro. Para chegar a abrigar tanta gente, a região passou por muitas mudanças e histórias. E quase se tornou uma cidade.
Antes da fundação da cidade do Rio de Janeiro, a região de Campo Grande era habitada por índios da tribo Picinguaba. Após 1565, esse território passou a pertencer à grande Sesmaria de Irajá. O local passou por círculos rurais, como o da cana-de-açúcar, da laranja, da criação do gado bovino até chegar a um processo de leve industrialização e culminar tendo no comércio local sua maior atividade econômica.

Em meio a todos esses anos e mudanças, por quase sempre ter autonomia econômica, além de um grande território e população, surgiu o tema da emancipação do bairro.

Em 1968, o então governador do estado da Guanabara, Francisco Negrão de Lima, promulgou a Lei 1627/68 reconhecendo a localidade de Campo Grande como cidade.
“Lei número 1.627, de 14 de junho de 1968, projeto do deputado Frederico Trotta. O governo do estado da Guanabara, faço saber, que a assembléia legislativa do estado da Guanabara aprovou o projeto de lei número: 181, de 1967 e eu promulgo, de acordo com o artigo 26, 3°, da constituição do estado, a seguinte lei: Art. 1° – É reconhecida como “Cidade” a localidade de Campo Grande, passando a denominar-se Cidade de Campo Grande. Art. 2° – Esta Lei entrará em vigor, na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 14 de Junho de 1968 – 80° da república e 9° do estado da Guanabara. Francisco Negrão de Lima, Álvaro Americano, Arnaldo Salgado Mascarenhas, Gonzaga da Gama Filho, Althemar Dutra de Castilho, Humberto Braga, Cotrin Neto, Raymundo de Paula Soares, Hildebrando Monteiro Marinho, Luiz de França Oliveira, Augusto do Amaral Peixoto, Dirceu de Oliveira e Silva, Victor de Oliveira Pinheiro e Lecy Neves”, informa o texto histórico.
Apesar da lei, Campo Grande seguiu sendo considerado um bairro. Como é até os dias de hoje. Por quê? Pesquisadores alegam que simplesmente foi “uma lei que não pegou” e também não houve tanta pressão de gente influente para “forçar uma barra”.
“O Brasil tem essa situação de leis que são assinadas e teriam que começar a valer, mas simplesmente nada muda. Vale, mas não vale. Além disso, a decisão do então governador Negrão de Lima não teve tanto lobby de empresários, políticos poderosos, foi uma coisa mais motivada pelo tamanho do bairro, da estrutura econômica quase que independente do restante da cidade e do número populacional, portanto, talvez não houvesse grandes interesses eleitoreiros e/ou econômicos para a região. Acredito que a questão do Estado da Guanabara e a confusão que gerou à época, pesou também para a lei não se concretizar, de fato. Isso sem contar uma possibilidade de conflito maior caso essa tentativa de emancipação fosse adiante, acabou fazendo com que tudo fosse amenizado e a ideia caísse num esquecimento geral “, explica o historiador Carlos Costa.
