Primeiro de maio é o Dia do Trabalhador, também conhecido como Dia Internacional dos Trabalhadores ou Dia da Classe Operária. A data é marcada pela luta por direitos trabalhistas. Essas históricas reinvindicações, no Brasil, tiveram início de forma organizada na cidade do Rio de Janeiro há mais de 120 anos.

Em 11 agosto de 1903, foi iniciada a primeira greve geral do Brasil. Tudo começou com trabalhadores da Fábrica de Tecido Cruzeiro, no bairro do Andaraí Grande, que era uma das subdivisões do atual bairro do Andaraí.

A greve durou 26 dias, terminando em 5 de setembro, e mobilizou diversas categorias de trabalhadores, como operários de oficinas, fábricas, funcionários dos transportes, comércio e serviço. Existiam causas em comum, entre elas a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, aumento nos salários e o fim dos maus tratos. De acordo com o Sindicato de Trabalhadores em Fábricas de Tecidos, cerca de 40 mil operários (25 mil tecelões) cruzaram os braços nas zonas norte, sul e centro.

Mapa do Rio de Janeiro mostrando os locais onde se concentravam os trabalhadores durante as greves de 1903. Noronha Santos, F. A. As freguesias do Rio Antigo. Rio de Janeiro,
revista O Cruzeiro, 1965

“A greve repercutiu na imprensa, que noticiou o dia a dia das mobilizações. O chefe de polícia do Rio de Janeiro, Cardoso de Castro, tratou os trabalhadores como ‘desordeiros’, fazendo uso da violência para conter as grandes proporções adquiridas pela greve. O abuso de autoridade gerou confrontos com trocas de tiros, disparos de bombas e muitas prisões, principalmente, nas proximidades das fábricas”, destaca o portal Rio Memórias, que continua: “Diante da resistência dos grevistas, o Exército e a Marinha foram acionados. A ordem era obrigar os trabalhadores a voltarem aos seus postos de trabalho. As vilas operárias foram invadidas, quem estava em casa foi levado preso para as fábricas“.

Uma das estratégias das forças de segurança e governos para descredibilizar as greves foi divulgar que malandros participavam dos movimentos grevistas. Alguns pesquisadores destacam que a polícia pagava alguns desses homens para se infiltrarem nas manifestações. Contudo, também existem relatos de famosos nomes da malandragem que ganhavam destaque na época que entravam na linha de frente junto com os trabalhadores no intuito de ajudar com suas navalhas e golpes de capoeira nos momentos de conflitos físicos com os agentes enviados pelo Estado.

No livro Cidade Rebelde, da pesquisadora Jane Santucci, algumas dessas histórias são contadas, sobretudo as que envolvem a Revolta da Vacina e a Greve Geral de 1903.

Nas últimas páginas da publicação, Jane escreve: “Foi um momento revolucionário, no sentido de que abriu caminho para a a a manifestação política e o processo de construção da cidadania. Se as rebeliões explodiram sob a regência de malandros ou libertários, representaram o dinamismo de um momento de transformação, expondo anomalias ainda desconhecidas para época, que se potencializariam ao longo do século. Em meio a uma realidade de conflitos e contradições, a imagem de uma cidade modernizada se realiza, embora trazendo consigo, como herança da cidade extinta, os desafios sociais não-resolvidos”.

Mais de 120 anos depois, o Rio de Janeiro terá, neste dia primeiro de maio de 2025, uma manifestação pelo fim da escala 6X1, na Cinelândia, a partir das 14h, promovida por movimentos sociais e políticos como o vereador Rick Azevedo, eleito com essa pauta.