
Governo planeja transformar Museu Nacional em Museu-Palácio Imperial
Publicado em: 28-03-2021O Museu Nacional, que teve seu prédio e parte de seu acervo destruídos por um incêndio em 2018, pode ser transformado em um centro turístico dedicado à história da Monarquia brasileira e da família imperial que governou o Brasil até a proclamação da República, em 1889.
O principal defensor da iniciativa na Esplanada é Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores. Ele realizou reuniões sobre o tema e destacou auxiliares para acompanhar o processo de reconstrução do museu com o objetivo de realizar a mudança e abrigar no local a memória histórica brasileira. O Rio de Janeiro, poucos sabem, foi a única cidade fora da Europa a ser capital de um Império Europeu e tem uma rica história, principalmente após a chegada ao país do príncipe regente Dom João VI e sua mãe, a Rainha Dona Maria I, que escaparam das tropas napoleônicas fugindo para nosso país, em 1808.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Ministério do Turismo têm participado de articulações junto ao MEC, Ministério da Educação. O deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança, do PSL, descendente da família real brasileira, também é um dos impulsionadores e apoiadores da idéia. “No mundo inteiro, os museus monárquicos atraem milhões de turistas do mundo todo, todos os anos. E uma monarquia européia sediada nos trópicos é um pitch incrível”, afirma Claudio Castro, presidente da Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio, a ABEMTUR-RJ.
A proposta do grupo é que o palácio, antiga residência dos monarcas Pedro I e II, seja reconfigurado para abrigar um centro dedicado ao Brasil imperial. O novo formato teria um enorme potencial turístico, segundo especialistas. Além de garantir um restauro real do imóvel, deixando-o com a aparência que tinha quando era conhecido como o Paço de São Cristóvão. O projeto de restauro que foi divulgado anteriormente não contemplava um restauro efetivo e sim um modelo de adaptação das ruínas a um museu mais moderno, com passarelas em ferro e não com a recomposição do palácio ao seu estado original. Algo como o Parque das Ruínas em Santa Teresa, ou o famoso hotel Sofitel Santa Clara, em Cartagena, na Colômbia.
Com a reconfiguração, o que restou do acervo científico do museu, que envolve pesquisas nas áreas como antropologia social, arqueologia, zoologia e botânica, seria destinado a um anexo da propriedade.
O cientista político e historiador Christian Lynch, em seu Twitter, defendeu a mudança e destacou que o palácio sempre foi modesto, tanto que “a república preferiu se abrir em lugares mais luxuosos ou palacianos, como o Catete”. Ele ressalta que é “um exagero achar possível restaurar o lugar de modo a transforma-lo no que nunca foi”.
“O bom senso recomenda fazer como o Louvre: restaurar certos apartamentos como palácio imperial. Para isso, além da restauração propriamente dita, é preciso recuperar o mobiliário original do paço, que está parte no Museu Mariano Procópio, e em Petrópolis, sem depena-los. Penso aqui nas alas frontais do paço, como a sala do trono, a sala dos embaixadores, a capela, o quarto dos imperadores, o gabinete, a biblioteca, etc“, explicou.
Lynch diz ainda que, como o restante do palácio é imenso, os outros 70% podem ter interiores modernos e comportar o Museu Nacional, ou seja, o Museu de História Natural do Brasil.
“A incompatibilidade entre Museu Histórico do Império e Museu de História Natural é uma invenção ideológica. A maior parte do palácio nunca teve interesse arquitetônico ou histórico. Pode-se ter o Museu Imperial na frente e o Museu de História Natural no meio e atrás“, afirmou.
