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Roberto Anderson: Árvores do Rio

Publicado em: 21-06-2025

Observando as árvores das ruas da cidade é quase possível traçar a história da arborização urbana do Rio de Janeiro. Com atenção, se consegue perceber que, a cada época, espécies favoritas foram plantadas. Até o século XIX sequer havia a ideia de se plantar árvores nas ruas como política pública. Além das poucas ruas existentes na cidade serem estreitas, os quintais das casas eram arborizados, e isso bastava. Não havia espaço ou necessidade de árvores nas ruas, que deveriam se distinguir da floresta no entorno. De espaços públicos arborizados a cidade contava apenas com o Passeio Público, criado ainda no século XVIII, e o Campo de Santana, ambos com a marca do paisagista francês Auguste Glaziou.

A novidade de se arborizar ruas veio da Paris haussmanniana, com seus bulevares. Isso foi em meados do século XIX e, naquele século, foram poucos os plantios em vias públicas no Rio. Um dos primeiros foi o renque de figueiras religiosas plantadas em frente à Santa Casa, na rua Santa Luzia, pelo botânico Francisco Freire Alemão, em 1873. Por sinal, figueiras eram uma marca do plantio em parques cariocas, como atestam as já centenárias do Campo de Santana. Houve também o plantio da aleia de palmeiras imperiais da Rua Paissandu e no Largo dos Leões, além da aleia de sapucaias na Quinta da Boa Vista.

Somente no século seguinte, com as reformas do período Pereira Passos, é que o Rio começaria a ver a arborização urbana como um fato espalhado pela cidade. As ruas alargadas foram arborizadas e a novíssima avenida Central, atual Rio Branco, logo recebeu o plantio de mudas de pau-ferro no canteiro central (há quem afirme que eram mudas de pau-brasil) e de oitis nas calçadas laterais, uma árvore da Mata Atlântica muito bem adaptada ao ambiente urbano. Infelizmente, nem aquele canteiro, nem as árvores originais existem atualmente. Restam os oitis das calçadas laterais.

A também nova avenida Beira Mar foi outra a ser contemplada com oitis, além de palmeiras entremeadas entre as árvores. Esse arranjo, ainda possível de ser observado na avenida Augusto Severo, está desaparecendo à medida que as palmeiras que morrem não são substituídas. É ainda dessa época o plantio de paus-ferros, como os existentes no canteiro central da avenida Pedro II, em São Cristóvão, e das amendoeiras, como as da Praça Paris. As amendoeiras, com a sua queda anual de folhas, apesar de exóticas e destruidoras de calçadas, cumpriram a função de dar ares europeus às quentes ruas do Rio. Da mesma forma, as asiáticas casuarinas, plantadas à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, trouxeram um ar de romantismo europeu. Bem próprio da mentalidade colonizada de nossas elites.

Nessas primeiras décadas de arborização urbana da cidade foram também utilizadas as sibipirunas, como as que hoje existem na orla da Praia de Botafogo, as paineiras e os flamboyants. E cássias ou acácias, também foram muito espalhadas pela parte da cidade que é arborizada. Sim, só partes do Rio são arborizadas. O Censo de 2022 detectou que 37,8% dos cariocas vivem em ruas sem nenhuma árvore plantada. As acácias e os oitis são tão onipresentes na cidade, que duas ruas na Gávea foram batizadas com seus nomes.

Na década de 1960 Burle Marx encheu o Parque do Flamengo com uma variedade de árvores nunca vista por aqui. Vieram espécies da Amazônia, do Cerrado e da Ásia, numa mistura sem preconceito, cujo único objetivo era produzir beleza e encantamento. Talvez esse gosto pelo diferente tenha influenciado a escolha das espécies que passaram a ser plantadas nos anos seguintes nas ruas. O abricó de macaco e a Monguba ou falso-cacau são marcas dessa arborização urbana carioca na década de 1970. A primeira se mostrou muito inadequada, já que seus pesados frutos podem danificar automóveis estacionados ao caírem. Ainda existentes em algumas calçadas, essas árvores exigem da Prefeitura o trabalho de coleta dos seus frutos antes que venham a cair.

Na década de 1990 uma nova estrela surgiu no repertório de árvores da cidade, a bauhinia ou pata de vaca. De rápido crescimento ela foi plantada em grande quantidade em calçadas e praças. É desse período também a política de só plantar árvores nativas nos espaços urbanos, vista por alguns como xenofobia vegetal. A amendoeira até foi banida por decreto municipal. Um ponto de convergência é o plantio de ipês, em suas várias cores e variedades, sempre muito bem aceito por todos.

A cidade tem uma enorme carência de plantio de árvores e promessas nunca cumpridas de suprir essa carência. Apesar disso, nos últimos anos, subiu assustadoramente o número de licenças para extração de árvores de terrenos privados, sem que se tenha conhecimento de onde foram plantadas as suas substitutas, e mesmo se foram plantadas. Um plano de arborização urbana da cidade, nunca implantado, caminha para ser revisto, uma realização que só nossos políticos são capazes de fazer.

A população gosta de árvores e gosta de plantar. E, na falta de ação adequada do poder público, coletivos se organizam por toda a cidade para realizar plantios. Há, ainda, ações de indivíduos que agem sozinhos, plantando com dedicação, mas sem muito critério. Mangueiras parecem ser as preferidas desses plantios aleatórios. Mas a mais saborosa dessas iniciativas é o plantio de bananeiras e mamoeiros em canteiros nas calçadas, talvez uma memória do passado rural de nossos porteiros e zeladores.

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