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Abandono de memorial da ditadura militar no Rio expõe ossadas e ameaça identificação de desaparecidos políticos

Publicado em: 23-05-2025

O memorial dedicado às vítimas da ditadura militar (1964–1985), localizado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte do Rio de Janeiro, encontra-se em completo estado de abandono. A constatação foi feita pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) durante diligência técnica realizada na última quarta-feira (21).

Ossos humanos, incluindo crânios fragmentados, estavam espalhados pelo chão em meio à umidade, fungos e caramujos. A denúncia foi tornada pública nesta quinta-feira (22), em audiência na sede do Arquivo Nacional, no Centro do Rio.

O espaço, que deveria preservar os restos mortais de ao menos 15 desaparecidos políticos, apresenta severos sinais de degradação. Segundo os peritos da comissão, a combinação entre umidade extrema, calor e presença de micro-organismos já compromete a extração de material genético para futuras identificações.

“Assim que a porta foi aberta, nos deparamos com vários fragmentos de ossos remanescentes no chão. Principalmente ossos de crânio fragmentados. E muita umidade no ambiente. Na segunda metade da sala, havia aproximadamente 20 sacos plásticos pretos com ossos. Dois deles parcialmente abertos. Frágeis, próximos de rasgar”, explica o perito Samuel Ferreira à Agência Brasil.

A sala do memorial mede cerca de quatro metros de comprimento e estava fechada há anos. Relatos de familiares indicam que o espaço não era acessado desde 2011. No interior, três prateleiras armazenavam os ossos por tipo: crânios, membros superiores e inferiores. Porém, a deterioração física e biológica do material — agora poroso e coberto por fungos — pode tornar impossível a identificação de novas vítimas da repressão.

Estrutura em risco e memorial descaracterizado

As más condições não se limitam ao interior do ossário. Paredes e teto apresentam goteiras e rachaduras por onde entram água e insetos. Após a vistoria, o espaço foi interditado e lacrado. A comissão recomendou melhorias urgentes na ventilação e vedação das frestas para conter os danos.

Além da situação crítica, a diligência também apontou a descaracterização do memorial. Os totens espelhados com os nomes dos desaparecidos foram retirados, placas estão desgastadas e o espaço perdeu seu caráter simbólico. Inicialmente, 14 nomes estavam representados. Em 2014, Joel Vasconcelos Santos foi identificado como o 15º desaparecido inumado no local, mas seu nome não foi incluído na estrutura.

O Cemitério de Ricardo de Albuquerque passou a receber corpos não identificados entre 1970 e 1974. Investigações do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ localizaram registros de 14 desaparecidos políticos sepultados ali. Após a descoberta de uma vala clandestina com cerca de 2,1 mil fragmentos ósseos, o memorial foi construído com apoio da Prefeitura do Rio e inaugurado em 2011.

Recomendações e reforço na investigação

Diante do cenário de abandono, a CEMDP apresentou uma série de recomendações para recuperar e preservar o espaço. Entre as medidas estão a vedação de fendas, instalação de ventilação adequada, restauração dos espelhos e substituição das placas danificadas. A inclusão dos nomes de Joel Santos e Félix Sobrinho em novos totens também foi sugerida, assim como a menção às vítimas ainda não identificadas.

A comissão propõe ainda a criação de um grupo de trabalho para garantir a manutenção permanente do memorial e a continuidade das pesquisas históricas e documentais que possam levar à identificação de mais vítimas.

Como parte do esforço de investigação, a CEMDP pretende digitalizar e cruzar dados do Instituto Médico Legal (IML), livros de sepultamento e arquivos da antiga administração do cemitério, sob responsabilidade da Santa Casa de Misericórdia. O objetivo é identificar novas vítimas da ditadura sepultadas clandestinamente.



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