
Jubileu das Irmandades mostra a importância das associações na História do Brasil
Publicado em: 20-05-2025No último fim de semana foi realizado o Jubileu das Irmandades, em Roma, Itália. O evento, que teve início na sexta-feira (16) e encerramento no domingo (18), contou com mais de 100 mil inscritos de mais de 100 países.
Os participantes brasileiros formaram um dos maiores grupos presentes ao Jubileu, que foi encerrado com a celebração da Santa Missa de início do pontificado do Papa Leão XIV.
A grande presença de brasileiros na Cidade Eterna resulta da importância das irmandades no desenvolvimento do Brasil, como explicou professor de História com especialização em história e cultura no Brasil, Helânio de Sousa da Cruz.
“As irmandades religiosas chegaram ao Brasil com os colonizadores portugueses no século XVI, trazendo consigo a tradição europeia de associações para a prática de atos de devoção, caridade e assistência social”, ressaltou Cruz, complementado que o estudo historiográfico brasileiro é incompleto se não considerar o papel das Irmandades no País:
“Sua história reflete as transformações sociais no Brasil. É impossível você estudar história do Brasil e não esbarrar com a atuação das irmandades e a persistência de laços comunitários baseados na fé e na solidariedade”, disse o historiador, segundo o Vatican News.
As Irmandades, dedicadas à devoção popular e ao fortalecimento da fé, são formadas por leigos. Ao chegarem ao Brasil, as associações se popularizaram, especialmente no período colonial.
Segundo historiadores, os relatos do Frei Agostinho de Santa Maria destacam que, no início do século XVIII, somente o Estado da Bahia contava com 31 irmandades aprovadas.
O que demonstra a importância desses grupos para o desenvolvimento e consolidação do catolicismo no Brasil. Helânio de Sousa da Cruz ressaltou que as Irmandades são de grande importância até os dias, pois influenciam a vida de fé de boa parte dos devotos.
“As irmandades desempenharam um papel central na manutenção e fortalecimento da fé católica, especialmente em contextos em que a Igreja tinha certa dificuldade de alcançar todos os fiéis. Aí que surgem aquelas questões das devoções populares. Elas organizavam procissões, festas religiosas, celebrações de santos padroeiros e atividades de catequese, contribuindo, desta maneira, para a religiosidade popular. Nos interiores, onde a Igreja tinha menor presença institucional, as irmandades, frequentemente, eram responsáveis por eventos religiosos e por ações sociais e de ajuda aos mais necessitados, fortalecendo o vínculo entre a população e a fé”, explicou o historiador.
Na construção da história nacional, uma das partições mais importante das irmandades foi a abolição da escravatura, ressaltou Helânio.
“Algumas irmandades, especialmente aquelas formadas por negros ou mestiços, como a Nossa Senhora da Boa Morte, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, Santo Elesbão e Santa Fulgência, participaram de manifestações e promoveram ações de apoio aos libertos, inclusive apoiado e financiado pela Princesa Isabel”, contou o estudioso Helânio, acrescentando que as associações, atualmente, contam com uma forte atuação em diversas regiões do Brasil, assim como em todo o mundo:
“As irmandades hoje em dia continuam atuando principalmente nas organizações de festas. Sobretudo essas irmandades mais antigas. Festa de celebrações religiosas e atividades sociais, é importante frisar isso. Muitas delas também desempenham um papel importante na preservação da cultura e da memória local, apoiando obras de caridade, educação e assistência social, especialmente em comunidades mais vulneráveis. Além disso, funciona como espaço de convivência comunitária, promovendo a integração social e o fortalecimento de identidades religiosas e culturais”, esclareceu Cruz.
Diante disso, constata-se a importância da celebração do Jubileu das Irmandades. A programação deste ano envolveu peregrinações às Portas Santas das Basílicas Papais, uma grande procissão pelo Centro de Roma e a Missa de início do ministério petrino do Papa Leão XIV.